Apego ao sol

Apego ao sol
Atualidade Cosmética escuta um grupo de consumidores para saber um pouco mais sobre sua relação com os protetores solares. A consciência segue evoluindo, porém, os hábitos de uso ainda carecem atenção 


O discurso por parte da população e da indústria a respeito da importância de aplicar protetor solar corretamente e dos riscos da exposição ao sol tem se desenvolvido de maneira positiva, sem dúvidas. Dramaticamente, caminha junto também o crescimento dos casos de câncer de pele e outras doenças relacionadas à exposição solar. Isso faz com que uma grande quantidade de pessoas tenha na ponta da língua qual a melhor maneira de se proteger do sol.

Contudo, e apesar de todos esses fatos, o cenário prático apresentado ainda está bem distante do considerado ideal para um país como o Brasil. O principal agravante para isso é justamente a falta de hábito de uso do brasileiro com este tipo de produto. Quanto ao consumo, mesmo com índices demonstrando melhora, massivamente, a compra de um protetor solar ainda segue plenamente relacionada aos períodos mais quentes do ano, como o Verão, ou à  ida a praias e piscinas. Tudo isso foi perfeitamente possível de ser verificado no grupo de entrevistados que participou desta edição do Focus Group. Temos aqui um conjunto de consumidores que, em resumo, é bastante consciente quantos aos riscos que estão envolvidos, mas que dá sinais que não estão totalmente habituados aos protetores solares. Os motivos para isso? Vamos discorrer a seguir.

Antes de entrarmos nos detalhes, algumas constatações obtidas com as entrevistas. Entre os nossos consumidores, as farmácias são os principais locais de compra para protetor solar, seguidos por supermercado, perfumarias e lojas de marcas cosméticas específicas. Alguns usam a internet para pesquisar o preço, mas acabam preferindo ir a um ponto de venda físico. Com relação aos produtos multifuncionais, que movimentaram o mercado por um tempo há alguns anos, eles não estão bem situados com os nossos entrevistados. Apenas um deles citou usar uma base com protetor, somente quando precisa, apesar de não gostar. Do resto, ninguém indicou usar produto multifuncional para "aproveitar" e ajudar na questão do hábito de uso. Quem citou usar maquiagem e também protetor solar, afirmou passar o protetor primeiro e depois a maquiagem por cima.

Odor e toque
Há dois fatores preponderantes que influenciam diretamente nessa questão do hábito de uso correto de um protetor solar: sua fragrância e sua textura. Não há dúvidas de que tendo esses atributos oferecidos de maneira agradável, o consumidor usaria mais. Nossos entrevistados comprovaram isso. Porém, nessa discussão, acaba entrando em outro fator que tem grande influência em tudo isso: o preço. Os consumidores com os quais conversamos citaram que fragrância e textura são influenciadores em seus hábitos de compra e uso. Alguns deles acreditam que o mercado ainda não dispõe de opções que agrade nesses dois sentidos. "Ainda não existe um (protetor) que seja mais discreto, ou que deixe a pele menos oleosa", crê Jorge Luiz, especialista em Licitações.

Há quem afirme não gostar de fragrância em um protetor, como a consultora de telefonia Mariana Formigoni, que também destaca que "quanto mais fina for a textura, melhor". Já o jornalista Rafael Magalhães confessa que não se atenta a nenhum desses dois fatores na hora de comprar um protetor, mas afirma que sempre busca por fragrâncias amadeiradas quando visa um produto. Na outra mão, a podóloga Priscila Tavares enxerga evolução nestes dois atributos. Segundo ela, as fragrâncias melhoraram muito e estão mais agradáveis e suaves hoje em dia; bem como a textura. "Para usar diariamente, a fragrância precisa ser leve ou, se possível, nenhuma. E a textura prefiro as mais firmes possíveis, assim tenho uma sensação mais seca", opina.

Visando um protetor solar com textura mais fina para facilitar a aplicação e para não ficar com a pele oleosa, a professora Rose Saraiva também tem preferência por itens que não possuem fragrâncias. "Deste modo, tenho de procurar mais no mercado para poder encontrar um que se adéque ao que prefiro", lembra a docente. Enquanto isso, a gerente Regiane Batista de Carvalho Esteves traça a relação que há entre preço e as opções existentes no mercado em termos de fragrância e textura. "São itens de extrema importância na decisão de compra dos protetores, pois a maioria possui fragrâncias não muito agradáveis e textura exageradamente oleosa. Opções de protetores com fragrâncias agradáveis e textura com toque seco ou aveludado, por exemplo, têm um valor muito elevado em comparação aos mais comuns", lembra.

O famigerado termo "cheiro de praia" foi mencionado pela fisioterapeuta Silvinha Matumoto, que afirmou procurar por protetores com fragrâncias mais suaves e com uma textura de creme hidratante, que não deixa a pele "melecada" e grudenta. A jornalista Marília Montich concorda que, há alguns anos, esse "cheiro de praia" realmente contribuía para a suspensão do uso diário por muitas pessoas. Porém, hoje, ela crê que as marcas procuram oferecer cada vez mais conforto ao cliente e, por isso, as fragrâncias e texturas têm se tornado mais agradáveis. "Quanto à textura, lembro de já ter usado protetores que deixavam a pele muito pesada, causando incômodo. Hoje, o filtro solar para uso diário é como um cosmético, de cheiro agradável e textura leve. Na hora da compra, levo em conta esses fatores sim. Procuro marcas que ofereçam toque seco e cuja fragrância seja bem sutil", completa.

O peso das embalagens
Outro ponto que pode vir a ser considerado na hora da compra é a embalagem. Entre as opções existentes em Proteção Solar, frascos e bisnagas prevalecem tanto no mercado quanto no gosto dos nossos entrevistados. A melhor espalhabilidade e o fato de não desperdiçar conteúdo são indicados por aqueles que têm preferência por esses dois formatos. Ainda relativamente nova na categoria, a versão em aerossol segue buscando conquistar seu espaço na preferência dos consumidores. Em nossas entrevistas, esse tipo de embalagem foi mencionado, sob diversos aspectos. Rafael Magalhães, por exemplo, cita a praticidade e a limpeza. "Gosto da praticidade de aplicação e também do fato de evitar sujeira nas mãos, o que não ocorre em bisnagas e sachês", situa.

Por outro lado, Silvinha Matumoto corrobora com a questão da praticidade quando o assunto são as embalagens em aerossol. Mas a fisioterapeuta diz que há um grande desperdício com este tipo de embalagem. Por conta disso, procura comprar frasco para o corpo e bisnaga para o rosto. Regiane Batista de Carvalho Esteves recorda a experiência que teve com três marcas de protetores em aerossol. Segundo ela, apenas uma delas foi satisfatória. "As outras duas opções (incluindo uma das marcas mais famosas do mercado) apresentaram problemas na embalagem logo nas primeiras aplicações. Já para o rosto, algumas embalagens liberam uma quantidade acima do que realmente seria utilizado", observa.

Quem também faz uma critíca sobre o protetor em aerossol é Jorge Luiz, que enfatiza que ele deixa a desejar em relação à textura. "Logo após a aplicação deixa a pele enrrugada." O especialista em Licitações aproveita para levantar outra questão importante para a categoria, que é o fato de a aplicação do protetor ser considerada por muitos uma barreira ainda, como é para Jorge. ?Geralmente está calor e o corpo já está mais quente, e a aplicação do produto é desconfortável e deixa a pele oleosa e o corpo ainda mais suado?, conta. Já para Marília Montich, a embalagem não é um fator que define sua compra ou uso. Para a jornalista, o uso de protetor também não é considerada uma barreira. "Pelo contrário. Sou super adepta ao produto, que uso diariamente desde os 13, 14 anos. O filtro solar faz parte da minha rotina. É como escovar os dentes para mim, não saio de casa sem, independentemente se está sol lá fora ou não", garante.

Preço conta?
Além da fragrância, textura e da embalagem, o preço também é um assunto que está sempre em pauta nesta categoria. Todos os nossos entrevistados concordam que o valor deste tipo de produto é alto, mas, entre eles, há distintas maneiras de se encarar este ponto. Jorge Luiz e Marília Montich colocam a questão da saúde em primeiro lugar. "O preço sempre influencia em quanto compro e uso, mas ainda temos as marcas em que confiamos e, como trata-se de um caso de saúde, a tendência é que busquemos um meio termo entre preço e qualidade", coloca ele. "Acho que se trata de um produto caro, porém encaro como um investimento na minha pele e na minha saúde. Não economizo produto por conta disso. Uso a quantidade que tenho de usar, a recomendada pelo dermatologista. Apesar dos preços serem elevados, protetores costumam render bastante. Para mim, um frasco de 50 gramas (N.E.: equivalente a uma bisnaga de protetor solar facial padrão no segmento de dermocosméticos) dura cerca de três meses. Então, acho que é uma despesa possível dentro do orçamento", emenda ela.

Quem também vai por essa linha é Rose Saraiva. "Os protetores que acredito serem melhores têm um valor muito alto para se fazer uso contínuo. Deveria ser mais acessível, porém não influencia no quanto eu compro. Por se fazer muito necessário, estabeleço como prioridade. Às vezes compro um de menor valor para não ficar sem nenhum", adiciona a professora.

Priscila Tavares reforça que, para quem usa com frequência, trata-se de um produto que não é barato e que, por isso, sempre pesquisa entre as marcas que gosta o preço e eventuais promoções que elas oferecem. Rafael Magalhães acrescenta que trata-se de um custo alto, sem necessariamente trazer o benefício que procura. "A grande maioria apela para alguns predicados que não me atraem, como textura", exemplifica. Silvinha Matumoto considera que os altos preços influenciam na hora de comprar um protetor para o corpo, já para o rosto não. "Principalmente os protetores de rosto, não sei porque os valores são mais altos e a quantidade é bem menor em relação aos de uso no corpo. E também acho que os protetores aerossol são extremamente caros para não durarem nem 1/4 do que dura um protetor em creme", compactua Regiane Batista de Carvalho Esteves.

Frequência e consciência
Embora indique diversas restrições com relação a hábitos de compra e uso de protetores solares, o grupo de consumidores ouvido por Atualidade Cosmética demonstrou ser bastante consciente quanto aos riscos que cercam essa categoria. De acordo com suas particularidades, os entrevistados relataram como e quando utilizam protetor solar. Alguns deles tiveram de "sentir na pele" os efeitos nocivos do sol para assim passarem a usar esse produto com mais consciência. Foram os casos de Mariana Formigoni e Rose Saraiva, que relataram histórias de familiares que tiveram câncer de pele. Além delas, Marília Montich relembrou que teve manchas na pele na adolescência provocadas pelo sol.

Rose também assegurou utilizar protetor diariamente para não ter manchas na pele. "Me preocupo com minha aparência e tenho receio de ter esse tipo de doença?, diz ela, referindo-se ao câncer de pele. Ela reclama que as marcas aumentam o valor dos seus produtos no verão, por saber que o consumo será maior nessa época. O preço, segunda ela, é um dos motivos que a impedem de fazer um uso mais contínuo. ?Deveria ter um valor mais acessível para que todos pudessem fazer uso contínuo como deveriam", sugere a professora. Mariana também lamenta o fato de no verão o protetor ficar mais caro. Mesmo asssim, garante que utiliza um protetor específico para o rosto todos os dias, faça chuva ou sol, desde os seus 14 anos. "Sinto que minha pele não tem manchas. Apesar de eu ser fumante, acredito que tenho uma boa pele por conta também da utilização diária do protetor", comemora.

Marília, Silvinha, Priscila e Regiane também declararam usar protetor solar diariamente, sobretudo no rosto. Elas têm plena noção de todos os riscos que uma má exposição pode acarretar à pele. A podóloga Priscila exalta que não são somente os raios solares que prejudicam a pele, mas que as lâmpadas e monitores de computador também contribuem. A gerente Regiane revela que esses riscos influenciam nos seus hábitos de compra e uso. Ela diz que utiliza protetor solar no rosto todos os dias pela manhã, principalmente no inverno, quando o faz também à noite, pelo fato de sua pele ser muito seca. "Nessa época do ano sofro com o ressecamento excessivo da pele."

Regiane relata que no verão acaba "relaxando" na forma de usar, pois gostaria de ter um produto que ofereça rapidez e praticidade na aplicação, algo que seria a proposta das embalagens em aerossol. Porém, segundo ela, isso não ocorre. "Além de terem um preço muito elevado, essas embalagens são de muita má qualidade, o que me impede de comprá-las com mais frequência e, sendo assim, poder aplicar de forma recomendada. Outra questão, que, acho que poderia ser melhorada, é o fato de a proteção durar apenas por duas horas. Quando vamos a praia, às vezes, torna-se inviável ter de reaplicar a cada duas horas, por exemplo, com o corpo molhado ou com areia. E é muito difícil também aplicar protetor nas crianças", conta.

A jornalista Marília Montich opina que as pessoas ainda não incorporaram o uso do protetor solar às suas rotinas pelo fato de "não lembrar de passá-lo ou simplesmente não acham importante". "Muitos ainda pensam que ele apenas é necessário na praia ou na piscina e esquecem - ou não sabem - que as luzes das nossas casas ou do escritório também queimam e são bastante prejudiciais. Acho que as mulheres são um pouco mais propensas ao uso diário, mesmo porque algumas maquiagens já têm fator de proteção solar. Já os homens, em sua maioria, não dão a devida atenção. Acho que é uma questão de conscientização, de pensar em como queremos estar daqui a alguns anos, tanto em termos de estética como de saúde", alerta ela que, todos os dias, aplica filtro em gel-creme pela manhã e, após o almoço, reaplica um protetor em pó.

A percepção de Marília sobre a diferença existente entre homens e mulheres quanto ao uso diário de protetor solar também pôde ser verificado em nossas entrevistas. Os dois homens que ouvimos demonstrarem conhecer os riscos de uma má proteção, mas afirmaram usar protetores basicamente quando vão a praia ou piscina. "Só uso na praia e piscina, quando a exposição é prolongada e direta - sem camisa. Na cidade, não uso. Então costumo comprar entre uma e duas vezes ao ano. Conheço os riscos e benefícios do uso, mas não sou um adepto. Foco no fator de proteção apenas quando ?preciso? mesmo", admite Rafael Magalhães, que aponta o "custo" como principal impeditivo para utilizar mais este tipo de produto. Enquanto isso, Jorge Luiz fala que usa protetor praticamente apenas de novembro a abril, e sempre que vai a praia ou piscina. "Tenho plena consciência dos riscos e me preocupo com isso, por isso utilizo mesmo sendo desagradável a forma de utilização, perda de tempo, e me sentir desconfortável pós utilização", rechaça. O especialista em Licitações finaliza dizendo que, além do preço, o tamanho e durabilidade dos itens são fatores que inibem o uso mais frequente dos protetores conforme é indicado por dermatologistas.
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