Liderança colaborativa

Liderança colaborativa

Os líderes de empresas devem realmente cuidar dos seus funcionários e  preciaam ter a capacidade de comunicar isso a eles. É o que pensa William Boulding, Reitor de uma das dez melhores escolas de negócios dos Estados Unidos

A frente da Fuqua School of Business, da Duke University, William Boulding tem uma visão afiada sobre o papel das lideranças empresarias para lidar com crises e, principalmente para dar conta dos novos desafios impostos pelo mundo contemporâneo como transparência, colaboração e um olhar que consiga enxergar (e fazer com que os outros enxerguem) para além do lucro. Para o Reitor, ter senso de positividade, criatividade e inovação será extremamente importante para superar as crises atuais, mas também para manter as empresas em uma posição sustentável para agregar valor na sociedade à medida que se avança para um mundo pós-covid-19.

Confira abaixo os principais pontos da entrevista concedida à Atualidade Cosmética.

Muito tem se falado em cooperação entre empresas, inclusive entre empresas concorrentes. Soa bonito, mas parece ir contra os instintos mais primitivos dos CEOs de grandes empresas. Os CEOs para esse novo mundo precisam ser diferentes?
Certamente. Acredito que os CEOs e as lideranças empresariais em geral estão realmente tentando fazer o melhor possível para manter seus colaboradores seguros. Isto é algo que estamos vendo em diferentes setores e que tem estimulado empresas concorrentes a cooperar, porque a crise econômica resulta justamente do esforço em se fazer o que é melhor para as pessoas, mantendo-as saudáveis e seguras. Comparando-se o comportamento dos líderes empresariais de hoje com o dessas lideranças durante a grande recessão de 2008, quando as grandes corporações foram vistas como principais responsáveis pela crise, acho que está claro que, atualmente, as empresas têm agido em prol de interesses coletivos, e não puramente pensado em si. O que eu vejo na crise atual são organizações cuidando de seus funcionários e tentando garantir que eles recebam os melhores conselhos possíveis contra a Covid-19.
Outra coisa que se deve reconhecer é que, no ambiente atual, devido à dualidade de uma crise sanitária concomitante a uma crise econômica, temos um mundo vivendo com medo. E quando as pessoas têm medo, elas querem saber se seus empregadores se importam com elas, se eles estão preocupados em garantir que elas fiquem bem. Essa ideia de se importar é um componente do Quociente da Decência sobre o qual falo muito, o que significa que você realmente deve cuidar de outras pessoas e ser capaz de comunicar que você se importa. Esse é um grande componente da mensagem que precisa vir dos líderes empresariais atualmente. As pessoas devem entender que seus líderes cuidam delas.

Como ser competitivo e colaborativo (no contexto da liderança de empresas concorrentes) ao mesmo tempo? Temos espaço para isso ou é um discurso de difícil execução?
A competição faz parte do capitalismo, e as empresas precisarão competir em novas bases moldadas pela pandemia. Mas também acredito que a cooperação faz parte da solução para os problemas econômicos e de saúde que enfrentamos atualmente. Portanto, vejo uma perspectiva diferente, tanto da concorrência quanto da cooperação nesse novo ambiente, porque a situação é inédita em nossa vida, para todas as empresas. Não enfrentamos em nossa vida essa combinação de crises, econômica e sanitária. Então, acho que todo líder empresarial precisa pensar em colocar a saúde e a segurança de seus stakeholders em primeiro lugar.
E isso é algo que claramente exige cooperação entre todas as organizações, mesmo que elas estejam competindo pelo mesmo mercado. Porque, se os líderes de negócios não puderem colocar a segurança de seus funcionários em primeiro lugar, isso simplesmente prolongará as dificuldades, pois os problemas de saúde em andamento produzirão problemas econômicos. Ao mesmo tempo, para que possam prosperar nesse novo ambiente, as empresas precisarão minimizar as disrupções. Isso exige uma combinação de fatores, incluindo a manutenção de suas equipes e garantir com que elas sintam pertencer à organização. Isso é fundamental para que pessoas possam ser realmente criativas, desbloqueando seu potencial como solucionadores de problemas. E é nesse ponto que as empresas continuarão competindo, ou seja, na capacidade de manter seus profissionais seguros, motivados e capazes de suplantar os desafios desse novo ambiente.

A pandemia e as regras de distanciamento social podem nos fazer rever muitos dos preceitos da economia colaborativa? Seremos mais individualistas nos próximos anos?
Uma das coisas que considero mais importante é que as pessoas geralmente pensam primeiro em todas as coisas que elas perderam diante desta pandemia. É verdade que perdemos muito e, mais do que tudo, perdemos nossa conexão física com outros seres humanos. Mas a realidade é que também ganhamos bastante. E precisamos pensar nisso como uma oportunidade de se buscar inovação e criatividade, e que muitas das coisas que estamos aprendendo a fazer agora para nos ajudar a superar as dificuldades atuais, continuaremos a fazê-la mesmo quando pudermos retomar uma vida em que o distanciamento social não será um requisito.
Então, acho que o senso de positividade, criatividade e inovação será extremamente importante para superar as crises atuais, mas também para manter nossas empresas em uma posição sustentável para agregar valor na sociedade à medida que avançamos para um mundo pós-covid-19. E a inovação só ocorre quando há colaboração; portanto, as empresas precisarão aprofundar seu senso de colaboração diante de qualquer impulso crescente do individualismo.

Em um mundo digital, os novos líderes precisam conhecer de tecnologia para tomarem suas decisões de negócios?
Está se tornando cada vez mais importante para as lideranças empresariais saber aproveitar a tecnologia. Não há escassez de informações para a análise de dados, o que pode ajudar na estruturação da estratégia e das operações de uma empresa, mas é importante que os líderes consigam distinguir o que é realmente significativo e do que é apenas ruído em meio aos dados. É por isso que é crescente a demanda por analistas que consigam não apenas tirar insights de dados, mas que consigam traduzi-los em práticas de negócios.
Além disso, os líderes precisam ter competência suficiente em tecnologia para liderar suas equipes e ajudá-las a realmente inovar. Isso não significa que o líder precise conhecer todos os detalhes de como cada peça de tecnologia funciona, mas deve ter um entendimento básico. Mais importante ainda, o líder deve possuir as habilidades necessárias para reunir a equipe e trabalhar em direção a um objetivo comum e inovar. Quando converso com os CEOs do Vale do Silício, muitas vezes me dizem que o fator limitador da inovação é liderança, não habilidades tecnológicas.

A recessão econômica que se seguirá a pandemia, exigirá a tomada de decisões duras. Os líderes não deixaram de serem cobrados pelos resultados e performance financeira da companhia. Isso pode levar a demitir muitas pessoas para, no final, entregar números melhores. Os investidores estão comprometidos com uma abordagem mais socialmente responsável neste momento difícil? Apoiarão CEOs que optarem por preservar empregados, mesmo q isso pese negativamente nos resultados da companhia no curto prazo?
Eu acho que este é um momento em que você deve fazer escolhas. E você deve estar muito claro das escolhas que faz. Nessa situação difícil, onde as empresas reduziram bastante a receita, os líderes das companhias terão que tomar decisões difíceis sobre o que fazer e proteger. Eles se comunicarão e farão o que puderem para manter sua base de funcionários e evitar a necessidade de tirar as pessoas do trabalho? O que algumas empresas estão fazendo é reduzir a jornada de trabalho, para que ninguém perca o emprego e, ao mesmo tempo, reduzindo salários para que todos possam ser mantidos na folha de pagamento. Nesses ambientes, em que você pede às pessoas que se sacrifiquem, e todos farão, o líder precisa estar preparado para sacrificar pelo menos o mesmo e, na minha opinião, mais do que o que eles têm pedindo aos seus funcionários.
Por outro lado, da mesma forma que você precisa colocar seu pessoal em primeiro lugar, não pode ignorar seus negócios. Existe uma ansiedade enorme, pois acho que as pessoas querem ter a confiança de que continuarão administrando seus negócios, poderão gerar receitas, porque percebem que, se não puderem trazer receitas, se não houver renda para o negócio, no fim das contas não haverá dinheiro para pagar a ninguém. Portanto, acredito que, quando você tem um líder que entende o tempo que estamos passando, que faz escolhas difíceis com base em análises consistentes da situação e as comunica claramente a todos os acionistas, os acionistas tendem a apoiar suas decisões.

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