Negócio que se transforma

Fruto da unificação de duas das mais tradicionais marcas de fornecedores da indústria, a AQIA reflete a visão dos seus sócios: a de transformar elementos que existem em algo sempre melhor


Ao longo de 30 anos, Ion Química e Polytechno se converteram em duas das mais fortes e conhecidas marcas entre os fornecedores de ativos e ingredientes para a indústria cosmética no Brasil. E os negócios nunca estiveram tão bem para as empresas quanto nos últimos anos. Por isso, não deixou de causar surpresa quando os seus controladores anunciaram a substituição das duas marcas com três décadas de vida cada por uma totalmente nova.

Apresentada em abril deste ano, a AQIA consolida sob um único guarda-chuva as operações da Ion e da Polytechno. Mesmo que tivessem, basicamente, a mesma composição acionária e operassem como braços de uma mesma organização, a Ion na área de Vendas, Marketing e Serviços e a Polytecnho com a fabricação e a distribuição, o fato de serem duas entidades jurídicas causava certa confusão sobre o papel de cada uma, tanto para o público externo como para o interno.

Para entender o movimento que resultou na unificação das empresas e na criação da AQIA, é preciso voltar um pouco no tempo. Na verdade, ao início do milênio. O que se viu a partir daquele momento foi uma forte virada da indústria cosmética brasileira. As empresas começaram a incorporar mais tecnologia e  algumas delas começaram a se destacar. Foi um momento de grandes movimentações.

Naquele período, a Ion/Polytechno – ciente da falta de investimentos do Brasil em química fina – já tinha adotado o modelo de trabalhar com parceiros internacionais, o que deu à empresa acesso à tecnologia e à informação. O grupo de representadas, aliás, permanece o mesmo até hoje: a Exymol, de Mônaco, com produtos muito específicos, toda tecnológica; a AAK, da Suécia, já mais orientada para itens com muito volume; a franco-canadense Lucas Meyers, que se aproveita das extrações dos óleos naturais, além da Dow, gigante química presente no mundo inteiro. “Somando essas representadas com a nossa fábrica, mais a Microservice e a Farmaservice (empresas brasileiras representadas pela companhia) a gente já tinha um bom arsenal para trabalhar”, conta o sócio-fundador da AQIA, Alaor Pereira Lino. Ele lembra que durante toda essa década, assim como o mercado, a empresa viveu um período de intensa evolução, viajando para congressos internacionais dos mais variados temas, conhecendo e aprendendo sobre as novas tecnologias que poderiam se adaptar ao mercado brasileiro.

Encerrado esse ciclo, em 2010, Alaor e seus sócios começaram a pensar no que fazer nos dez anos seguintes, o projeto 2020, com três pontos importantes na caminhada da companhia.

O primeiro foi justamente a unificação das marcas, que de fato significava unir a operação de duas entidades, que operavam em conjunto mas de modos diferentes. “Quando perguntávamos ao mercado sobre o que eles entendiam das duas marcas, percebemos que existia certa confusão e falta de compreensão. Esse foi o motivador para a unificação. E a necessidade de criar uma nova marca não era só uma questão de nome fantasia e razão social, de escolher assumir Ion ou Polytechno. Existia também uma questão interna. A grande discussão era se ‘nós somos uma ou duas empresas’. Unificar a marca foi a decisão mais acertada”, acredita Alaor. O organograma único está permitindo também uma maior integração entre os profissionais das diferentes áreas da empresa, como Marketing, P&D e Produção.

Tendo convivido com as duas empresas por 30 anos, desde o seu nascimento, é fácil imaginar como o processo foi difícil. A sugestão de criar um novo nome foi aceita. Mas não poderia ser por qualquer nome e a escolha por AQIA não poderia ter sido mais feliz para a visão da empresa, como explica o seu fundador: “É uma marca que valoriza muito o QI, do pensar, da inteligência, de estar preparado para a inovação e também reforça a química industrial e o poder de transformar. E o nosso objetivo enquanto fornecedor de cosméticos é transformar a partir de fontes naturais, adotar tecnologia que podem diferenciar um componente, somar dois elementos e transformá-los em um terceiro.”

Mais demandada por inovação
A demanda por inovação dentro das empresas de beleza cresce continuamente. E o papel das empresas que fornecem tecnologia cosmética é o de levar cada vez mais o que está rolando de novo, em várias partes do mundo e apresentar isso para os clientes, de um jeito já tropicalizado. Um dos segredos do mercado de cosméticos, é fazer a mesma coisa que você faz sempre, de um jeito diferente todo dia. “Você precisa achar o ponto para fazer coisas muito parecidas diferentes”, acredita Alaor. O domínio das tecnologias, somado a um olhar externo, permite desenvolvimentos e soluções para os quais, quem está dentro das empresas de cosméticos, às vezes não enxerga ou tem medo de testar.

Ao mesmo tempo, o time da AQIA precisa estar sempre antenado para atender à solicitação dos profissionais das empresas, que hoje, ao contrário do que acontecia até pouco tempo atrás, têm muito acesso à informação. A interdependência desse relacionamento é super sadia, e trabalhar para ajudar a indústria cosmética a apresentar novidades e crescer, é vital para a AQIA. Afinal, a curva de vendas da empresa é historicamente muito semelhante a do mercado.

Dimensionando o mercado, as vendas do segmento de ativos e ingredientes representam cerca de 5% do valor de vendas da indústria de produtos acabados. Com base nesses dados, Alaor consegue analisar a participação dos ativos (os itens mais Premium), aditivos (os ingredientes intermediários) e os básicos (as commodities). E ao longo dos últimos anos, mesmo com o avanço do movimento de sofisticação das fórmulas dos produtos, os três grupos avançam de forma mais ou menos linear, graças à própria dinâmica do mercado, como explica o empresário: “o que é ativo hoje, vai ser aditivo daqui a 10 anos, por isso o mercado de ativos está sempre lançando novidades, porque você precisa repor essa linha.” Em compensação, a base de aditivos se alarga, com a adição dos ativos mais maduros, assim como alguns aditivos passam a ser básicos com o passar do tempo.”

Mas hoje, os sócios também se preocupam com os mercados internacionais. A empresa mantém uma boa atividade na América Latina. Mas os volumes de exportação no total das vendas ainda é pequeno, na ordem dos 5%. Mas esse vai ser um foco mais importante para a empresa. Segundo Alaor, a meta é chegar até 2020 com 30% das vendas realizadas fora do Brasil.

Modernização
Outro pilar importante para o projeto 2020, era a evolução da planta industrial da companhia. No início dos anos 2000, existia a possibilidade de construir uma nova fábrica. A empresa tinha o terreno e os recursos para fazer o empreendimento. Foi quando o governo de Pernambuco, ofereceu à empresa uma área em Goiana. Na cidade, próxima da capital Recife, seria construído um polo químico-farmacêutico tendo como âncora a unidade de produção da Hemobrás, estatal dedicada à produção de medicamentos hemoderivados. “Nós teríamos uma série de benefícios fiscais,  mas, quando o Supremo Tribunal Federal definiu que qualquer benefício fiscal concedido por um governo teria que ser aprovado por 100% do CONFAZ (conselho que reúne os secretários da fazenda de todas as unidades da federação), o que é impossível, se criou uma insegurança jurídica muito grande”, explica.

Com o processo paralisado, a empresa refletiu sobre o que fazer. Retomar a ideia de construir uma fábrica nova? Nesse caso, os diretores da empresa chegaram a conclusão de que eles só poderiam partir para algo novo, se a atual fábrica estivesse adequada. Foi aí que optou-se por expandir e atualizar a sua fábrica, o que se provou a decisão mais acertada já que pelo crescimento do mercado nos últimos quatro anos, se a empresa não tivesse partido para a ampliação, ela não teria dado conta de atender ao mercado.

Tendo incorporado o dobro da área original, a atual fábrica tem capacidade de produção e é muito produtiva. Agora, o objetivo da AQIA é modernizá-la. Sob o comando do sócio José Roberto Borba, todos os processos e o fluxo da unidade estão sendo revistos para que a estrutura possa atender ainda melhor e no volume que a empresa precisa.

Foco no P&D
O terceiro ponto do projeto 2020 é o de melhorar, renovar e ampliar o P&D. O espaço dedicado a essa área vai ser multiplicado por quatro, o que vai permitir a contratação de mais pessoal, equipamentos e a ampliação de parcerias. “Vamos chamar consultores, fazer acordo com entidades de fora, tudo isso para ampliar o nosso acesso à inovação”, diz Alaor.

Essa ampliação entretanto não passa pelo aumento do número de empresas representadas, uma relação de muito equilíbrio e harmonia. “Os representantes dessas companhias podem estar junto conosco nos nossos clientes, ao mesmo tempo. Não temos competição entre as empresas e podemos promover todas elas”, conta.  Essa proximidade é fundamental para descobrir novas oportunidades. “Quando a gente vai lá fora, o cara fala que tem um grande know how. E eu digo: ‘que bom, porque nós temos um grande know who’”, brinca.

A relação harmoniosa permite incorporar tecnologias de um parceiro, combiná-la com a de outro parceiro para gerar algo ainda mais exclusivo para oferecer ao mercado. Em alguns casos, a AQIA cria produtos com base em algum ingrediente de uma representada e exporta para a própria representada. “Temos muito desse respeito. Sentamos juntos para fazer um desenvolvimento e às vezes descobrimos novas aplicações para ingredientes que eles nem estavam dando atenção para um determinado uso. Você acaba criando mercados novos para certos componentes.”

Depois de 30 anos de conquista e no meio de uma década virtuosa, o que Alaor espera para a AQIA na conclusão do atual ciclo? “Lá atrás, em 2011, a gente não podia acreditar que ia chegar tão bem em 2014. Então estamos confiantes e podemos ser mais audaciosos para 2020. Até o final de 2014 teremos um desenho claro para 2020”, conclui o empresário.
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