In-Cosmetics 2022: Sustentabilidade e inovação

In-Cosmetics 2022: Sustentabilidade e inovação

Tendências do ambiente digital, biotecnologia e conteúdo educacional marcam a in-cosmetics de 2022

A in-cosmetics Latin America, que aconteceu entre os dias 21 e 22 de setembro, em São Paulo, no Expo Center Norte, contou com a presença de fornecedores globais e regionais apresentando inovações, tendências e novidades da indústria de beleza e cuidados pessoais. Soluções tecnológicas e ativos cosméticos que já despontam em outros continentes estiveram em pauta, assim como os avanços em temas como sustentabilidade e biotecnologia.

O evento contou com visitantes locais e de países como Argentina, Peru, Colômbia, México e Estados Unidos, que compareceram em peso, com destaque para químicos, formuladores, profissionais de marketing e P&D de empresas de cosméticos. Como explica o diretor do evento, Daniel Zanetti, a edição deste ano foi estratégica e simbólica, com a inclusão de abordagens com influenciadores, sustentabilidade e mídias digitais. “Tivemos a presença massiva de empresas estrangeiras, mostrando o bom momento da indústria na região, com expositores trazendo novas soluções e lançamentos”, diz Zanetti. “O tema sustentabilidade permeou diversas áreas da feira, de ingredientes ao conteúdo educacional e focamos em criar a melhor in-cosmetics de todos os tempos”, garante.

Para o PhD Jadir Nunes, sócio-diretor na Start2Mkt, as inovações e tendências do setor estão hoje, bem definidas nas plataformas envolvendo biotecnologia, extratos botânicos, derivados naturais em geral e vetorização/encapsulação como forma para melhorar o desempenho do ingrediente no processo produtivo, assim como no caso de ativos, com níveis de permeação adequados a cada categoria. “Vejo que a inovação e sustentabilidade deverão continuar sendo os dois principais pilares nas estratégias das empresas para que possam manter-se competitivas no mercado cosmético”, pontua. “Aliás, nos painéis apresentados na feira tivemos interessantes discussões sobre criação de marcas, impactos das redes sociais e também apresentação do conceito ESG aplicado na área cosmética, mas acredito que o tema é relativamente novo e que no nosso setor ainda está sendo conhecido, já que poucas empresas realmente têm ou aplicam fortemente este conceito que precisamos avançar mais nos próximos anos”, pontua.

Outros destaques vistos na feira apontados por Nunes dizem respeito a concretização de algumas tendências acompanhadas durante a pandemia, como a dos produtos multifuncionais, que continuarão sendo valorizados pelos consumidores pela sua facilidade no uso, assim como itens de cuidados da pele e cabelo com proteção contra as agressões do meio ambiente e que proporcionem bem-estar e melhora na autoestima.  O PhD tampem vê a categoria de produtos para o público 60+ com maior nível de digitalização nas redes sociais e também fortalecendo o uso de produtos anti-age, enfim, movimentos que para Nunes, seguirão neste momento pós-pandêmico.

Mas, antes de chegar até o consumidor final, é preciso vencer algumas barreiras que se tornaram mais difíceis, ao menos momentaneamente, como lembra Alberto Keidi, farmacêutico-bioquímico e CEO da Protocolo Consultoria em Dermocosmética. Para o especialista, um dos grandes desafios que o segmento cosmético enfrenta diz respeito  à área de supply chain, iniciado pelo cenário da Covid-19, e ainda impactado pela guerra na Ucrânia. “Fretes com valores altos, lead time muito extenso impactaram no custo final dos cosméticos ao consumidor, mas apesar destas dificuldades, a criatividade da indústria cosmética brasileira buscou soluções de modo a manter o crescimento deste segmento cosmético”, pondera Keidi. 

Sustentabilidade em alta
A agenda de sustentabilidade foi um dos marcos da in-cosmetics 2022, sendo assunto, inclusive, na programação do evento. O Workshop Inovação ABIHPEC teve como tema as Mudanças Climáticas e Sustentabilidade em um Mundo em Transformação, com participações de palestrantes de empresas como Natura & CO, O Boticário, Herbarium, Medicin e especialistas em áreas técnico-científicas da ABIHPEC e do Instituto de Recursos Naturais da Universidade Federal de Itajubá / MG.  

Nos estandes uma série de ativos e soluções naturais com foco na preservação da natureza e capazes de sustentar as metas de zerar a emissão de carbono assumidas por muitas marcas ao longo dos últimos anos. 

A BASF apresentou uma plataforma digital para auxiliar pesquisadores e profissionais de marketing a encontrar tendências, categorias de aplicação e acesso a uma lista de ingredientes da empresa, além de formulações indicadas, documentações e informações sobre emolientes, com inteligência artificial, para resultados mais assertivos. Em seu espaço também foi possível conferir o compromisso com o Care 360 Solutions for a Sustainable Life (Soluções para uma vida sustentável). “Como algumas das novidades, apresentamos o Verdessence Rice touch, um biopolímero de origem natural que funciona como um modificador sensorial para trazer efeito matte nas formulações. Retomamos o Probiolift com microorganismos vivos que se tornam ativos no contato com a pele”, explica a gerente de marketing da BASF, Anne Sato. 

Já a Chemyunion trouxe como lançamento dois ingredientes na Innovation Zone: o Restart PRO, que reconstrói o cabelo de dentro para fora, independentemente do dano sofrido, por biotecnologia, graças a um conceito total de upcycle; e o Iselight, produto bastante alinhado à sustentabilidade, biodegradabilidade e origem vegetal para tratar a hiperpigmentação, ou seja, as manchas senis que costumam aparecer, principalmente nas mãos, e começam a se formar a partir dos 30 anos.

Reação do mercado
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), no balanço do primeiro semestre de 2022, as vendas ex-factory (sem os impostos) do setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos tiveram alta de quase 10% na comparação com o mesmo período do ano passado. O segmento de cosméticos apresentou um crescimento expressivo superior a 10% em vendas ex-factory. A categoria maquiagem contribuiu com o resultado positivo, com aumento de 20%, já Higiene Pessoal, Perfumaria e Tissue registraram alta de 6%, 16% e 15%, respectivamente. O presidente executivo da ABIHPEC, João Carlos Basilio, destacou a predominância do clima de otimismo por parte das empresas durante o evento. “Elas estão vendo esse mercado reagindo, com projeção de crescimento de dois dígitos para o fechamento de 2022”.

Destaques
A Vollmens Fragrances apostou em experiências ligadas aos sentidos, em especial o olfato, e realizou uma apresentação em seu estande para influenciadores e jornalistas sobre cinco criações olfativas envolvendo jasmim em propostas amadeiradas, doces, solares, florais e marinhas. “Nosso mercado é muito encantador e a fragrância não proporciona apenas um perfume, mas levar a outros lugares, resgatar memórias”, conta a gestora de comunicação institucional e relações internacionais, Natália Mendes. 

Completando 30 anos de mercado, a Vantage, uma das patrocinadoras do evento, disponibilizou uma sala especial para uma jornada imersiva sensorial chamada SENSEID com imagens, sons, vento, como forma de reforçar a conexão dos produtos com os momentos de cuidados dos consumidores, para o dia e noite, como uma das propostas da empresa, que recentemente adquiriu as marcas JEEN e Botanicals Plus. “Nosso objetivo foi mostrar as inovações que temos no mercado e os novos produtos e conceitos”, conta o gerente de marketing Latam, Aleksander Muñoz.

 A Oak Fragrâncias inseriu no estande o conceito de flor de cerejeira para destacar as criações e o conceito criativo da marca. “Incluímos uma árvore, a sakura, de flor de cerejeira, montada de cabeça para baixo, para trabalhar o conceito oriental de dia e noite, como forma de conectar os clientes à natureza com a novidade de um mundo perfumado de fragrâncias diferentes”, explica perfumista da marca, Rafael Pataca.

Presente desde a primeira edição e representando empresas internacionais, como as alemãs Cosphatec, que tem como destaque as fórmulas naturais, e a Eckart com linhas de pigmentos de efeitos e sustentáveis, a distribuidora Colormix Especialidades apresentou as tendências globais de cores de sombras, batons e rímel 2023/2024. Outros destaques no estande da empresa foram as marcas Kupanda, da África do Sul, que fabrica óleos da botânica africana e exporta para o mundo inteiro com qualidade reconhecida para os óleos de ximenia e baobá, entre outros; e a nacional Biotae Natural Healthy Solution, que produz corantes de origem vegetal. “Participar da in-cosmetics tem uma enorme relevância, já que o evento é um dos mais importantes agentes de desenvolvimento do setor de cosméticos na América Latina, sem contar que o Brasil é um dos mercados mais relevantes do mundo”, disse Carlos Fernando de Abreu, CEO da Colormix.   

“Conseguimos gerar muitos leads e encaminhar muitos negócios no evento. Acredito que nossas expectativas foram superadas em 100%. Nos aproximamos de empresas do segmento capilar, de cuidados corporais, de aromatizadores de ambientes; todas de muito potencial e que movimentam o mercado brasileiro”, comemorava o gerente de marketing da Scentec, Douglas Santana, destacando os resultados positivos em sua primeira participação na in-cosmetics Latin America.

Assim como os expositores, os visitantes também estavam ansiosos por novidades, como foi o caso do especialista em matéria-prima da L’Oreal, João Paulo Guimarães, que veio buscar negócios, oportunidades e conhecer novos ingredientes para diferentes categorias e aplicações.  “Como fabricante de produto final, ter esse momento de interação presencial e de encontrar nossos parceiros é fundamental para alinhar novidades, tendências e expectativas de mercado. Foi um momento muito importante de conexão”. 

Para a analista de desenvolvimento de fórmulas da Natura, Débora Prada, que atua na linha de maquiagens e outros cosméticos que levam cera na composição, a busca por ingredientes inovadores e naturais, novos pigmentos e afins são uma tendência para deixar as fórmulas cada vez mais naturais. “A ideia é mantermos o padrão de qualidade com ativos que tragam benefícios para os consumidores, e por isso buscamos novas ceras veganas”, explica.

A coordenadora de P&D na Unilever, Thamires Peixoto ressaltou seu interesse nas novas tendências em sustentabilidade com apelo mais clean. “Nossos produtos têm esse foco mais biodegradável, sustentável e vimos na feira muita coisa com essa proposta”, disse ela que atua no time de desenvolvimento de embalagens.

Para a cosmetóloga Sônia Corazza, o que mais chamou sua atenção no evento deste ano foi o olhar totalmente diferenciado para o tema Microbioma/ Microbiota da pele e seus desdobramentos para a saúde e boa aparência da pele e do couro cabeludo. “Após a pandemia ficou claro que houve uma mudança total em relação ao olhar na nossa área cosmética para a importância de conhecer com mais profundidade a população microbiana que habita cada tipologia e condição cutânea afim de escolher ingredientes que possam resgatar a homeostase . E a abrangência de pesquisa em cada situação, idade e estado de pele foi muito interessante”, afirma. “Diversas empresas que atuam na criação de insumos ativos trouxeram estudos interessantes sobre seus novíssimos ingredientes, oferecendo soluções bem inovadoras para cuidar das peles com problemas bem clássicos, como alterações de oleosidade, pigmentação, inflamação e até mudança do relevo”.

Outra observação da cosmetóloga foi sobre como as empresas contemplam cada vez mais a importância uma agenda ESG como uma questão de sobrevivência mundial que obviamente afeta todo o setor, responsável por uma parcela importante em relação a aspectos de descartabilidade e biodegradabilidade. “A maneira de se relacionar com os clientes mudou consideravelmente, desde a visitação e entrega de amostras, até a otimização para mandar informações”, diz. “Acredito que essa consciência mais integrativa, percebendo a relação do ser humano com todas as formas de vida e o impacto que causamos em tudo e em nós mesmos vai crescer. Não há mais chance de ‘arremessar’ produtos no mercado. Não é só planejar a criação de novos produtos, mas sim entender as reais necessidades de autocuidado, com rotinas realmente fundamentais e inseríveis no dia do ser humano, que corroborem para a saudabilidade”, conclui Corazza.


Mais do que ESG

O Brasil tem recebido os lançamentos de novos ingredientes ao mesmo tempo que outros países, isso aumenta a competitividade no segmento cosmético, pois de posse destes novos insumos cosméticos, associado à capacitação e criatividade do pesquisador brasileiro, novos e diferenciados produtos são lançados, de tal modo que o Brasil tem sido lembrado em diversas categorias como benchmark. “Este ano, assim como visto no in-cosmetics Latin America, a diretriz e o conceito em destaque foi sustentabilidade e isso vem ao encontro da aplicação do conceito de ESG, não somente como meta das empresas, mas para atender a cobrança dos novos consumidores de cosméticos, muito mais sintonizados com as tendências e preocupado com o nosso planeta”, explica Keidi, que exemplificou outros temas que ganharam ainda mais visibilidade no evento, como:

• Índice de naturalidade – muitos ativos trazem consigo, além dos estudos de eficácia e segurança, informações a respeito de seu índice de naturalidade.

• Multifuncional – buscando adequar-se à nova forma de se cuidar, produtos multifuncionais podem ser desenvolvidos utilizando ingredientes que apresentam diversas funções e benefícios.

• Cenário Regulatório – o Brasil possui uma legislação moderna e funcional, isso possibilita a tranquilidade na credibilidade de claims explorados.

• Skinification – um conceito que chegou forte e ganhou visibilidade durante a pandemia, o entendimento de que o couro cabeludo deve ser encarado como uma estrutura tão importante quanto a pele, uma extensão da face. Pudemos ver excelentes ativos para esta aplicabilidade.

• Metaverso – um tema atual no qual as empresas precisam definir um posicionamento de suas marcas, oferecendo experiências digitais e entendendo o cenário que se expandiu neste período de pandemia, como compras pela internet.

 

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